sábado, 19 de março de 2016

Mao Dse Dung – O homem e sua obra





Capitulo I – A Vitória da Derrota

A Revolução Comunista chinesa foi um dos acontecimentos históricos mais marcantes do século XX.  Seu principal líder, Mao foi demonizado em todo o Ocidente não por suas falhas e erros cometidos na condução do cruento processo revolucionário chinês, mas pelos seus vários acertos em tirar uma China que vivia os estertores de um sistema feudal decadente, explorada pelas potências ocidentais e nação sem amor próprio governada por corruptos, dependente da influência de seus invasores, transformada pelo comunismo em grande potência nuclear já no final do século XX, com taxas de crescimento invejáveis em relação ao decadente Ocidente, e apresentando crescimento incontestável da qualidade de vida de seu povo novamente orgulhoso de sua nação, país onde vive atualmente um terço da população global.

Como tudo o que ocorre na China, a história de sua revolução comunista ocupou várias décadas do século passado, e atingiu seu apogeu a partir de um crescimento lento e constante tendo como um dos principais estrategistas e protagonistas o grande líder chinês.

Nossa história inicia-se em um cantão do interior da China em 9 de Agosto de 1927. O jovem Mao, antigo ajudante de bibliotecário que possuía curso de professor primário, está em sua cidade, Chang-Chá, onde canaliza e prepara a revolta dos camponeses que lidera.

Ele busca maiores informações sobre os recentes acontecimentos de Xangai que  chegam através de viajantes, rumores a respeito da caçada aos comunistas realizada pelo General Chang Kai-chek, principal líder do Kuomintang, o partido nacionalista chinês, na época servo dos interesses internacionais e mergulhado inteiramente na corrupção de seus integrantes. O Hu-Nan está calmo, e na prática sob controle comunista. Mao dedica-se de corpo e alma a sua missão de divulgador e organizador das comunas de camponeses. Sua confiança é tão grande que jamais menciona nem discute no jornal local os graves acontecimentos do Norte entre tropas nacionalistas e comunistas.

Os dias passam lentamente junto com as estações do ano, e Mao, então com 34 anos, mantém sua vida interiorana sem que nada a perturbasse. 

Nesta manhã do dia nove de Agosto bem cedo o jovem professor resolve perambular pelos subúrbios da cidade. Trabalhou muito nestes últimos dias e decide levar a esposa grávida para passar o dia na casa de uns primos, que vivem em um lugarejo a poucos quilômetros de distância. O casal sossegado e feliz tem um dia agradável. Ao anoitecer o casal despede-se dos parentes e seguem em direção a Chang-Chá. Antes de entrarem pelo antigo portão de ferro da cidade resolvem dar ainda uma volta para falar com um companheiro. Mas ele não está só. Um dos dirigentes da célula comunista da cidade, um discípulo de Mao, encontra-se no local. Desanimado o rapaz conta para o mestre e seu superior que pouco depois da saída do dirigente Mao, de madrugada, sete mil soldados do Kuomintang, escolhidos pelo próprio Chang Kai-chek, sitiaram a cidade e conseguiram infiltrar muitos outros disfarçados de civis.

O homem relata que após desarmarem as milícias comunistas prenderam seus principais lideres. O semblante do jovem fica carregado ao descrever a chacina que se seguiu. Execuções sumárias nas ruas, homens decapitados perante os familiares, mulheres violadas diante do filhos, transeuntes inocentes mortos a machadadas, velhos estrangulados, casas incendiadas.

Mao a principio não quer acreditar no relato. E decide ir ver por conta própria o que acontece. Acompanhado pela esposa esgueira-se pelas vielas estreitas, interroga quem encontra pelo caminho e acaba reconhecendo que a situação ainda é pior do que foi relatado pelo companheiro. Passa a noite em busca de outros amigos para preparar a resistência ou forjar algum plano que os possa salvar.

Ao romper da aurora Mao e a esposa são presos. Separados um do outro. Ele é levado diante de um pelotão de execução. E no momento fatal que o oficial vai dar ordem de fogo, um dos soldados, natural de Chang-Chá reconhece Mao. Como presa importante ele é espancado e trancafiado numa prisão provisória.

Como todo homem que perde a liberdade Mao procura fugir da morte certa na mão dos seus algozes. Examina sua prisão cuidadosamente até encontrar uma tábua em falso, que consegue rebentar. Durante a noite consegue escapar. Quando nasce o dia, disfarçado entre a multidão vê passar um cortejo de prisioneiros dos nacionalistas em direção a um campo em que postes fincados aguardam o martírio dos companheiros. Para pouparem munições os prisioneiros não são fuzilados, mas estrangulados a garrote. Entre os executados Mao reconhece Yang Kai-hui, sua esposa.

Nessa noite uma sombra deslizou furtivamente por um campo. Ao sair de Chang-Chá vai despedir-se da companheira morta. A partir deste momento ele está só, seus companheiros foram mortos, sua amada, seu partido foi aniquilado por ora. Aproveitando a escuridão foge para as montanhas, na fronteira do Hu-Nan com o Kiang-Si. No caminho escreve um doloroso verso:

“Cortei as mãos na corda do garrote /mas não saiu uma só gota de sangue/Em vez de sangue vi a piedade escorrendo de mim”

Em custosa jornada Mao consegue furar as linhas inimigas que cercam as montanhas e reagrupa alguns correligionários retomando a luta contra a opressão do Kuomintang.

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