Capitulo I – A Vitória da Derrota
A Revolução
Comunista chinesa foi um dos acontecimentos históricos mais marcantes do século
XX. Seu principal líder, Mao foi
demonizado em todo o Ocidente não por suas falhas e erros cometidos na condução
do cruento processo revolucionário chinês, mas pelos seus vários acertos em
tirar uma China que vivia os estertores de um sistema feudal decadente,
explorada pelas potências ocidentais e nação sem amor próprio
governada por corruptos, dependente da influência de seus invasores, transformada pelo comunismo em grande
potência nuclear já no final do século XX, com taxas de crescimento invejáveis
em relação ao decadente Ocidente, e apresentando crescimento incontestável da
qualidade de vida de seu povo novamente orgulhoso de sua nação, país onde vive
atualmente um terço da população global.
Como tudo o
que ocorre na China, a história de sua revolução comunista ocupou várias
décadas do século passado, e atingiu seu apogeu a partir de um crescimento
lento e constante tendo como um dos principais estrategistas e protagonistas o
grande líder chinês.
Nossa
história inicia-se em um cantão do interior da China em 9 de Agosto de 1927. O
jovem Mao, antigo ajudante de bibliotecário que possuía curso de professor
primário, está em sua cidade, Chang-Chá, onde canaliza e prepara a revolta dos
camponeses que lidera.
Ele busca
maiores informações sobre os recentes acontecimentos de Xangai que chegam através de viajantes, rumores a
respeito da caçada aos comunistas realizada pelo General Chang Kai-chek,
principal líder do Kuomintang, o partido nacionalista chinês, na época servo
dos interesses internacionais e mergulhado inteiramente na corrupção de seus
integrantes. O Hu-Nan está calmo, e na prática sob controle comunista. Mao
dedica-se de corpo e alma a sua missão de divulgador e organizador das comunas
de camponeses. Sua confiança é tão grande que jamais menciona nem discute no jornal local
os graves acontecimentos do Norte entre tropas nacionalistas e comunistas.
Os dias
passam lentamente junto com as estações do ano, e Mao, então com 34 anos, mantém sua
vida interiorana sem que nada a perturbasse.
Nesta manhã do
dia nove de Agosto bem cedo o jovem professor resolve perambular pelos
subúrbios da cidade. Trabalhou muito nestes últimos dias e decide levar a
esposa grávida para passar o dia na casa de uns primos, que vivem em um
lugarejo a poucos quilômetros de distância. O casal sossegado e feliz tem um
dia agradável. Ao anoitecer o casal despede-se dos parentes e seguem em direção
a Chang-Chá. Antes de entrarem pelo antigo portão de ferro da cidade resolvem
dar ainda uma volta para falar com um companheiro. Mas ele não está só. Um dos
dirigentes da célula comunista da cidade, um discípulo de Mao, encontra-se no
local. Desanimado o rapaz conta para o mestre e seu superior que pouco depois
da saída do dirigente Mao, de madrugada, sete mil soldados do Kuomintang,
escolhidos pelo próprio Chang Kai-chek, sitiaram a cidade e conseguiram
infiltrar muitos outros disfarçados de civis.
O homem
relata que após desarmarem as milícias comunistas prenderam seus principais
lideres. O semblante do jovem fica carregado ao descrever a chacina que se
seguiu. Execuções sumárias nas ruas, homens decapitados perante os familiares,
mulheres violadas diante do filhos, transeuntes inocentes mortos a machadadas,
velhos estrangulados, casas incendiadas.
Mao a
principio não quer acreditar no relato. E decide ir ver por conta própria o que
acontece. Acompanhado pela esposa esgueira-se pelas vielas estreitas, interroga
quem encontra pelo caminho e acaba reconhecendo que a situação ainda é pior do
que foi relatado pelo companheiro. Passa a noite em busca de outros amigos para
preparar a resistência ou forjar algum plano que os possa salvar.
Ao romper da
aurora Mao e a esposa são presos. Separados um do outro. Ele é levado diante de
um pelotão de execução. E no momento fatal que o oficial vai dar ordem de fogo,
um dos soldados, natural de Chang-Chá reconhece Mao. Como presa importante ele é
espancado e trancafiado numa prisão provisória.
Como todo
homem que perde a liberdade Mao procura fugir da morte certa na mão dos seus
algozes. Examina sua prisão cuidadosamente até encontrar uma tábua em falso,
que consegue rebentar. Durante a noite consegue escapar. Quando nasce o dia,
disfarçado entre a multidão vê passar um cortejo de prisioneiros dos
nacionalistas em direção a um campo em que postes fincados aguardam o martírio
dos companheiros. Para pouparem munições os prisioneiros não são fuzilados, mas
estrangulados a garrote. Entre os executados Mao reconhece Yang Kai-hui, sua
esposa.
Nessa noite
uma sombra deslizou furtivamente por um campo. Ao sair de Chang-Chá vai
despedir-se da companheira morta. A partir deste momento ele está só, seus
companheiros foram mortos, sua amada, seu partido foi aniquilado por ora.
Aproveitando a escuridão foge para as montanhas, na fronteira do Hu-Nan com o
Kiang-Si. No caminho escreve um doloroso verso:
“Cortei as mãos na corda do garrote /mas
não saiu uma só gota de sangue/Em vez de sangue vi a piedade escorrendo de mim”
Em
custosa jornada Mao consegue furar as linhas inimigas que cercam as montanhas e
reagrupa alguns correligionários retomando a luta contra a opressão do
Kuomintang.
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