Capitulo II
– Origens da Revolução Comunista Chinesa
Sun Yat-sen |
Para
compreender as causas desta luta de morte entre nacionalistas e comunistas é
necessário começarmos a contar a história a partir de 9 de Outubro de 1911.
Neste dia explode uma bomba em Wu-Tchang, diante da residência do representante
do governador da província de Hu-Pei. Não ficou registrada na história o autor do atentado. A explosão desta bomba não fez vitima alguma e apenas causou pequenos estragos, mas marca para sempre uma mudança na história milenar da
China. Vai dar início a uma insurreição popular que, em semanas, acabará para
sempre com a hegemonia da dinastia Manchu, estabelecida no país desde 1644.
Este atentado é severamente punido. Ainda na tarde deste 9 de Outubro, em
Hankeu, cidade vizinha e capital do Governo, a policia desencadeia grande
repressão que resulta na prisão de uma centena de agitadores conhecidos e a
execução imediata em praça pública de uma dezena deles. Estas execuções,
assassinatos, prisões e torturas promovidas pelas forças policiais geram a
indignação e a revolta de todo o povo.
No dia
seguinte, a guarnição local amotina-se, e seus oficiais conseguem com algum custo convencer
seu comandante, um general fraco e despossuído de ambições a chefiar o
movimento revoltoso. Com a população sublevada e aclamando, as tropas com seu
general à frente, vão até a cadeia e libertam os presos políticos sobreviventes
e depois seguem em marcha na direção do palácio do governador. O mandatário mal
tem tempo de refugiar-se numa canhoneira, ancorada no rio Yang Tsé, e fugir.
Numa reunião
dos insurretos pela tarde fica decidida a intenção de derrubar o imperador
Manchu e sua dinastia. O movimento alastra-se como um rastilho de pólvora. No
dia seguinte outras cidades como Wu-Tchang, Hang-Yang põem para correr seus
governadores Manchu. E depressa a revolta atinge Fu-Chen, Cantão, Nanquim,
Xangai,e, em menos de três semanas, todo o Sul do país. Jamais houve outra
revolta tão pacifica. Aos gritos de “fora com os Manchu”, ou “China livre”, os
revolucionários, que desfilam com braçadeiras brancas, ocupam os prédios
oficiais, onde instalam conselhos locais. Os poucos soldados manchus que
prestam segurança aos governadores depõem as armas (arcos e flechas) e são
encarcerados junto com os familiares em campos de prisioneiros. Nas cidades
libertadas, após o pânico inicial provocado pela fuga de seus antigos senhores
e dos ricos comerciantes temerosos com o fim da autoridade que arrastaram atrás
de si milhares de subordinados, em pouco tempo tudo volta ao normal novamente.
Ao fim do
conflito, e com a calma da situação, sucede o entusiasmo com o novo
nacionalismo transbordante que seduz ao povo e principalmente aos jovens
estudantes. Estes, após duzentos e cinqüenta anos de dominação Manchu, começam
a manifestar sua nova identidade ao cortarem a trança, um ornamento de sujeição
imposto pela dinastia Manchu aos seus súditos. Na segunda fase do processo de
libertação abandonam as escolas e universidades e ingressam em massa nos
exércitos revolucionários. Mas entre a glória do combate fácil e a disciplina
da caserna existe um longo caminho. É o que pensa o soldado Mao, com dezoito
anos, ainda condenado da manhã a noite a lavar louça na cantina dos oficiais.
Enquanto
isso em Pequim o governo isolado está inquieto. Jamais ocorreu situação tão
desesperadora para o poder central. Após cinco dias do atentado a bomba, o Príncipe
Regente convoca então um oficial que tinha sido favorito da imperatriz, Yuan
Che-Kai, que vivia exilado desde a morte dela numa distante província do Norte.
Investido como comandante das tropas imperiais segue com suas forças em direção
dos exércitos revoltosos que consegue repelir da margem norte do Yang
Tsé-Kiang. Mas o general tem outras ideias a respeito do conflito, Percebe a
decadência de seus senhores em relação a potência da revolução em curso e por
isso convence Pequim a negociar.
As
negociações começam no início de Dezembro em Xangai e são concluídas em menos
de um mês. As tímidas reformas propostas pelos monarquistas que propõem uma
monarquia constitucional não impressionam a facção dos brancos que almejam uma República.
O fato de dominarem boa parte do território chinês, todo o sul e centro do país
e que quatorze das dezoito províncias apóiam o movimento exigem a imediata
abdicação do monarca Manchu. Para afirmar sua posição reúnem-se, em fins de
Dezembro na cidade de Nanquim, onde criam uma Assembléia Nacional e adotam uma
Constituição Provisória.
A 1° de
Janeiro de 1912 a Assembléia Nacional reúne-se em sessão plenária e delibera para
eleger o primeiro presidente da República chinesa. Os sufrágios dos
representantes do povo elegem um homem de 46 anos, Sun Yat-Sen. É ele que irá
colocar a termo a monarquia. As negociações terminam a 12 de Fevereiro com um
edital real que determina o fim da dinastia Manchu e mais de dois mil anos do
regime imperial. Para os republicanos é uma vitória completa e para Sun Yat-Sen
é o fim de uma luta de uma vida toda, de combate, de revolta e de exílio.
Sun Yat-sen é o pai da revolução chinesa. Em 1912 ele representa a alma, o espírito e o corpo da revolta.
É a alma,
pois conseguiu botar de pé quatrocentos e cinquenta milhões de chineses e
tirá-los da letargia milenar confuciana, resgatando a dignidade do povo e seu
espírito combativo. É o espírito, pois soube preparar a revolução e ainda em
1898 estabeleceu os “Três Princípios do Povo” e a “Constituição dos Cinco
Poderes”, que ainda hoje influenciam o socialismo chinês. E ainda é o corpo,
pois graças a sua ação determinada, o seu dinamismo, a sua lucidez e
confiança tornou possível promover a
conjura clandestinamente e fazer mais célere o processo de transformar a China numa
República Constitucional.
Sun Yat-sen,
filho de um humilde camponês da zona de Cantão, aos treze anos embarcou para
Honolulu, onde um pastor protestante lhe deu guarida. Aos dezesseis já falava e
escrevia em inglês. Descobriu então as ciências naturais e com isso, conforme a
mentalidade da época, abriu sua mente para as facilidades do mundo moderno. O
choque cultural resultante forjou o homem que percebeu a estagnação que paira
em seu país natal e resolveu então mudar este estado de coisas.
Após seis
anos regressa para morar em Cantão como auxiliar no Hospital Inglês, depois vai
a Hong Kong para estudar medicina e depois em Macau onde tenta em vão
estabelecer-se. Como um chinês ocidentalizado regressa à China com a intenção
de modernizar seu país. Tenta primeiro criar a “Sociedade da Educação” de onde
pretende modernizar o ensino, mas sua proposta é rejeitada pelo governo.
Em 1895 Sun
Yat-sen tem vinte e nove anos e decide-se pela ação. Com um punhado de
oficiais, tenta apoderar-se do Palácio do Governador de Kuang-Tung. A tentativa
é malograda de forma sangrenta. Quatro dos seus camaradas são aprisionados e
fuzilados. Ele mal consegue fugir e vai buscar abrigo em Hong Kong e depois no
Japão.
A partir
deste fracasso muda sua estratégia e passa a buscar apoio no exterior junto aos
ricos mercadores chineses de onde solicita fundos para a luta e de governos
estrangeiros que busca aliciar para sua causa.
Em 1905, no
Japão, cria a “União das Ligas Revolucionárias”. Quando ao fim do ano regressa
à China, seu movimento conta com quarenta mil membros. Não é muito ainda, mas é
uma força crescente catalizadora do contingente intelectual chinês descontente
que busca um avanço. As massas populares ainda estão distantes de uma
conscientização.
A Guerra Sino-Japonesa de 1894, a Revolta dos Boxers de 1900 e
a Guerra Russo-Japonesa de 1904 iriam marcar o país para sempre. A capacidade
de renovação do exército japonês e as derrotas infligidas aos chineses primeiro
e depois aos russos demonstraram que uma nação do Oriente poderia modernizar-se
e vencer qualquer guerra contra os europeus. E a sublevação dos Boxers, com
suas sociedades secretas de lutas marciais, que atacaram os interesses europeus
na China, instigados pela família real, e foram finalmente vencidos e
humilhados pelos invasores, leva à
grande parte das classes esclarecidas a discussão da necessidade urgente da
reforma do país, impedida pela dinastia Manchu que ainda mantinha entre os dedos o poder
tradicional, apesar de ser controlada com mão de ferro pelos interesses
estrangeiros vigentes.
Cixi - A Imperatriz Viúva |
A revolta Boxer foi consequência da volta da linha dura ao poder entre os monarquistas, após a
eliminação do imperador Kuang-Siu, que tentou implantar algumas pequenas
reformas no sistema feudal, através da conspiração urdida pela velha imperatriz
viúva. Após a morte do imperador, uma violenta campanha contra a ocupação européia tem início, orquestrada veladamente pelo palácio. As sociedades secretas como por exemplo “Os Punhos da Justiça”
iniciam uma campanha que redunda no mês de Junho numa explosão de cólera.
Milhares de chineses invadem os redutos europeus de Pequim e atacam as missões
católicas e legações estrangeiras. Isolados os europeus e com poucos recursos
bélicos formam barricadas nas suas casas e palácios e sustentam um terrível
cerco durante cinqüenta e cinco dias. Sua libertação,por um contingente
internacional comandado por um Marechal alemão, Waldersee, que abalou o que
restava do prestigio da dinastia governante.
Os
estrangeiros cobraram caro os dias sangrentos. As represálias foram a imposição
da pena de morte ou destituição de vários nobres da corte, considerados implicados nos
incidentes e o pagamento de vultosas indenizações sobre os danos causados aos
interesses estrangeiros. Para o homem da rua chinês o sentimento de humilhação
e impotência já experimentados cinco anos antes com a derrota dos exércitos
chineses pelas tropas japonesas só aumentava.
Esta vergonha e este descontentamento irão
cristalizar-se em torno de um homem, Sun Yat-sem. Em 1907 estouram os primeiros
motins em nome dos “Três Princípios do Povo” e da “Constituição dos Cinco
Poderes”, que Sun Yat-sen enunciara nove anos antes, durante sua permanência
nos Estados Unidos da América.
Os “Três Princípios
do Povo” criados por Sun Yat-sen são: A união de todas as “raças” que vivem em
território chinês, para que os povos manchu, mongol, tibetano, tártaro e chinês
constituam uma única nação poderosa, seguindo o exemplo dos norte americanos, e
possam corresponder sem diferenças às aspirações de todos para formar uma
unidade política no território denominado China.
O segundo
principio tem a influência direta dos enciclopedistas franceses e dos mentores
da Revolução Francesa e refere-se ao ideal democrático, com direito de voto
para todos, referendum, direito de iniciativa. Os direitos de uma democracia
direta.
O terceiro
princípio diz respeito a um reformismo moderado e certo socialismo a ser implantado com reforma
agrária para os camponeses. Distribuição de terras de forma equitativa e de
evitar que o capital concentre-se apenas nas mãos de uma minoria privilegiada. Seria também necessário valorizar e modernizar os métodos de plantio e incentivar os meios
nacionais de comunicação.
No plano político
a “Constituição dos Cinco Poderes” é baseada na noção capital de liberdade e
ordem. Os cinco poderes são: o judiciário, o legislativo, o executivo, o poder
de exame dos funcionários e o poder de repressão ou de censura. A administração
do Estado estaria com o Presidente. O legislativo seria controlado por um
parlamento, o poder judiciário estaria a cargo de juízes de carreira e os
poderes de repressão e exame seriam exercidos por notáveis com experiência na
condução dos assuntos sociais.
Os motins de
1907 são duramente reprimidos pelas tropas do governo. As prisões e execuções
em praça pública multiplicam-se, o que faz aumentar ainda mais a revolta e o descontentamento
geral. Entre 1907 e 1911 ocorrerão novos levantes, em Cantão, setenta e dois
jovens revolucionários são executados. Quando ocorre então o atentado de Wu-Tchang, a
9 de Outubro de 1911 as condições para a criação da primeira República Chinesa
estão já maduras.
Mas uma
Assembléia Nacional, uma Constituição e mesmo uma nova bandeira ainda não são
suficientes para mudar a mentalidade dos chineses, nem instaurar a democracia
no coração do povo, alicerce necessário para fazer funcionar o processo político.
As ameaças são imensas e os riscos de retrocesso numerosos em 1912.
O mais grave
desses riscos é Yuan Che-Kai, que é um homem poderoso, ambicioso e inteligente.
Ao favorecer o êxito da revolta ao obrigar Pequim a negociar passa a ser o fiel
da balança do poder. A abdicação dos Manchu é um plano que favorece seus
interesses. Para realizá-lo vai ludibriar ambos os lados. Para os Manchu
garante que a abdicação terá caráter provisório. Vai favorecer os
revolucionários cantoneses com o único interesse em apossar-se da revolução
para depois neutralizá-la. Uma vez alcançado seu objetivo poderá estender sua
autoridade a todo o país e depois restaurar o regime imperial, que sairá
fortalecido dessa prova histórica.
Yuan Che-Kai |
O fato de
ser um homem brilhante, enérgico e demagogo o aproxima dos revolucionários. Sun
Yat-sen, ao contrário, é um homem fechado e pouco inclinado a criar simpatias
ou amizades políticas fora de sua esfera de interesse. Além disso, apesar de
ser brilhante teórico, não possui as qualidades necessárias de liderança, o que
permite que Yuan Che-Kai imponha-se rapidamente perante todos.
Com o apoio
secreto das grandes potências seduzidas pela sua aparente força, Yuan Che-Kai
muda para o lado republicano e a 7 de Outubro de 1913 é eleito Presidente da
República com um mandato de cinco anos. Sun Yat-sen, vencido, fica com a chefia
das estradas de ferro nacionais. O novo mandatário não tem a intenção de
submeter-se a seja lá quem for. A idéia de uma dinastia para ele tem caráter
pessoal. Espera transformar a nova república em seu império. E para atingir seu
objetivo ele divide para governar. Em poucas semanas afasta os revolucionários
do poder e consegue dividir o partido de Sun Yat-sen, a “União das Ligas Revolucionárias”, que divide-se por fim em três correntes
partidárias enfraquecidas.
Perante esta
nova situação, e temendo a instauração de uma ditadura vitalícia, Sun Yat-sen cria
o Kuomintang, cujo diretor político é
um tal de Chang Kai-chek, que não é do agrado do líder histórico. Em particular
comenta Sun Yat-sen com a esposa: “É um
chinês e um patriota, mas finório demais para o pequeno cérebro que tem por
cima da nuca”
Chang Kai-shek Jovem |
Seja como
for Chang Kai-chek mostra ser extremamente ativo. Em pouco tempo organiza o novo
partido e com seus próprios recursos empreende uma viagem pelo sul do país para
estabelecer a oposição ao novo ditador. Sua atividade logo alcança os
resultados esperados. No verão de 1913 as províncias de Kiang-Su, de
Kuang-Tung, de Fukien, de Se-Chian, e de Kiang-Si, rebelam-se contra o novo
governo.
Yuan
Che-Kai, que transferiu o governo de Cantão para Pequim reúne suas forças
organizadas e equipadas pelas potências ocidentais e parte para restabelecer
seu poder naquelas províncias e esmagar os revoltosos que as dominam, agora sob
a direção de Chang Kai-chek, que se mostra um estrategista militar respeitável.
Ao final os revoltosos são vencidos, não sem antes infligir perdas razoáveis ao
ditador de Pequim que obtém uma vitória de Pirro. O chefe revoltoso evita o
desastre total e ao final sai prestigiado do combate.
A meia
vitória de Yuan Che-Kai dá novo alento a Sun Yat-sen que junto aos seus correligionários
se reúnem outras vez em Cantão e instalam um novo governo revolucionário. Yuan
Che-kai prepara uma nova ofensiva, mas um acontecimento importante compromete
seus projetos. Em Agosto de 1914 inicia-se a guerra na Europa.
As grandes
potências européias envolvidas com seus próprios problemas nacionais retiram o
apoio financeiro do ditador. Os fundos destinados aos cofres de Yuan passam a ter outro
destino. O conflito europeu trará para a China conseqüências inesperadas. O
Japão então aliado da França e da Inglaterra resolve intervir na China para
assegurar a “manutenção de ordem”. Imediatamente as forças nipônicas
desembarcam em solo chinês e apoderam-se dos interesses alemães. Esta primeira
intervenção japonesa é seguida de uma diligência diplomática de Tóquio, que
envia alguns dias depois um longo memorando de reivindicações que ficou conhecido
sob o nome de “Vinte e Uma Exigências”. Aproveitando-se do fato que os europeus
estavam mais preocupados com seus problemas o Japão resolve colocar seu antigo
rival de joelhos.
As exorbitantes
reivindicações depois de ter confiscados os territórios sob domínio alemão com
ocupação militar obrigavam que a China entregasse suas principais fábricas de
ferro e aço. A essas exigências de caráter econômico ocorrem outras de óbvia
sujeição da soberania chinesa ao poder japonês. O governo de Pequim fica
obrigado a aceitar e recorrer a conselheiros políticos, econômicos e militares
japoneses e a colocar seus postos políticos nas principais capitais do país sob
comando conjunto sino-japonês, o mesmo em todas as minas, estradas de ferro e
arsenais.
Perante esta
humilhante situação, e depois de ter pedido apoio norte americano sem sucesso,
Yuan Che-Kai aceita as condições. Esta sujeição ao poder nipônico vai
contribuir ainda mais a derrocada do ditador. Com o fim dos subsídios europeus,
a chegada do novo ocupante e desacreditado junto ao seu povo que o acusa de
entreguista contra seu inimigo milenar. O que os chineses aceitavam dos
europeus não iriam aceitar dos japoneses por questões históricas hereditárias.
A ocasião é
oportuna para os revoltosos. Chang Kai-chek inicia nova viagem pelas diferentes
províncias do sul e obtém êxito em sua demanda. A maioria dos governadores
adere ao movimento revolucionário e nos fins de 1915, Yuan Che-Kai admite não
controlar mais a situação. Tomado pela ira sagra-se imperador a 15 de Dezembro
desse mesmo ano. Mas esta medida é ineficaz do ponto de vista político. Seis
meses mais tarde, a 6 de Junho morre misteriosamente e são várias as versões
sobre sua morte. Com o vazio do poder o país mergulha nas lutas entre senhores
da guerra mesmo com os esforços do Kuomintang
e de Sun Yat-sem para manter a unidade.
No entanto o
país atingiu nova prosperidade. Devido a guerra na Europa os produtos chineses
não tem concorrentes e sua indústria pode crescer. Entre 1913 e 1919 a produção
de têxteis aumenta em oitenta porcento. Em 1919 a China começa a exportar
hulha, recurso energético que antes era obrigada a importar do estrangeiro.
Outras atividades econômicas são criadas e o processo de ocidentalização promove
uma modificação radical do modo de vida chinês principalmente entre as novas
gerações. É abolido o tradicional calendário lunar em troca do calendário solar
adotado na Europa. As mulheres não mais hesitam em passear pelas ruas das
cidades e as antigas práticas deformantes de enfaixamento dos pés são proibidas
por lei desde 1903.
Estudantes Chineses |
As vestimentas
ocidentais tomam as ruas, sapatos de couro, chapéus de feltro, os trajes e
relógios de pulso ou bolso começam a serem usados. O petróleo passa a ser mais
utilizado pela população citadina. Candeeiros a querosene importados dos
Estados Unidos são comprados aos milhares fazendo a fortuna dos importadores. No
plano educacional a reforma é mais espetacular. As escolas de missionários e as
Universidades dirigidas por ocidentais tornam-se procuradas e um aumento de
locais de ensino ocorre por todo o país e até mesmo no interior. A instrução é gratuita.
As escolas técnicas, as Universidades de Direito, a Física, a Química, a Álgebra,
a Geometrias e as línguas estrangeiras são ensinadas. Os escritores europeus
humanistas são difundidos entre os intelectuais nas bibliotecas que são criadas
em todo o país. Em 1915 o grande escritor Huang Yuan-yung propõe e lança as
primeiras bases de uma escrita chinesa simplificada para substituir o lugar da
escrita clássica.
Estas reformas têm profunda repercussão entre os
estudantes e as novas gerações. Estes estão agrupados em sociedades de estudo e
sindicatos de classe onde debatem em conjunto os problemas do país.
Organizam-se e fazem greves e manifestações, muitas vezes contra os poderes
vigentes. Em pouco tempo tornam-se numa força viva da nova China. Entre outras
manifestações estabelecem o costume de comemorar, todos os anos, como burla, a
aceitação das “Vinte Uma Exigências” japonesas por Yuan Che-Kai, o que
consideram o cúmulo da humilhação nacional.
China 1919 |
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